Você já se perguntou como algumas marcas conseguem conquistar o mundo sem gastar fortunas em publicidade?
A Veja já vendeu mais de 12 milhões de tênis, e nenhum deles foi um presente para influenciadores. A aposta desta marca francesa é outra, e parece ter funcionado. Esta é a história por trás de seu sucesso.
Provavelmente você já as viu andando pela rua, nos shoppings, escolas, universidades ou, talvez, tenha algumas no seu armário. Os tênis franceses da marca Veja — que se pronuncia "veja" — se tornaram um dos acessórios de roupa mais populares em todo o mundo.
Sua anatomia é bastante simples: geralmente são feitos de couro ou borracha com revestimento de algodão orgânico, mas são caracterizados por um notório "V" que se destaca no meio, que pode ser de diferentes cores, dependendo do modelo.
E seu preço é um pouco mais elevado que a média: nas lojas de varejo que os vendem, um par pode custar cerca de USD150.
Mas o que mais chama a atenção nesta marca é que, diferentemente de todas as outras, decidiu não investir em publicidade, campanhas ou influenciadores. Praticamente, os tênis se vendem por si só, porque têm um segredo por trás.
Em uma reportagem do jornal espanhol El País, o diretor criativo e cofundador da marca, Sébastien Kopp, garantiu que quem adquire um Veja "pode andar tranquilo pela vida, com a cabeça erguida".
E é que no processo de criar um tênis Veja, não há mão de obra infantil, a cadeia de suprimentos é controlada e bem paga, e sua fabricação é sustentável, ou seja, quase não tem impacto sobre o planeta. Segundo o que o homem contou ao meio de comunicação, ele viajou, compartilhou e conhece quase todos os produtores dos materiais que utilizam.
Esta é a história por trás do sucesso que esses tênis tiveram.
Sébastien Kopp tem 45 anos, é francês e criou a marca Veja com um amigo de sua adolescência, François-Ghislain Morillion. Segundo relatou ao El País, eles se conheceram na escola e tiveram imediatamente uma conexão profunda. Ambos queriam mudar o mundo, por isso decidiram estudar Economia, no entanto, depois de se formarem, perceberam que não se sentiam realizados trabalhando nos empregos comuns da área.
"Não éramos felizes e deixamos tudo para montar uma ONG, que se dedicou a investigar desde a eficácia dos painéis solares até a propagação do HIV entre os mineiros da África do Sul". Depois dessa mudança vertiginosa em suas vidas, ambos começaram a viajar e aprender com todas essas experiências.
Passaram pelo Brasil, África do Sul, Índia, China, Marrocos, Argentina, Peru e Estados Unidos em uma aventura que durou 18 meses e da qual surgiu um novo sonho compartilhado: fazer tênis esportivos que fossem sustentáveis.
Segundo Kopp, naquela época eles costumavam usar as marcas típicas que os jovens usam, como Puma ou Adidas, que sempre haviam gostado, no entanto, "também eram um símbolo da dominação dos países do norte sobre os do sul e pensamos que poderíamos mudar isso".
Com 10.000 euros na mão e muito pouco conhecimento sobre moda, os jovens lançaram seus primeiros tênis minimalistas em 2005.
O objetivo, contou o cofundador, não era vender tênis, "mas demonstrar que era possível fazer as coisas melhor. Estávamos reinventando um produto que, em nossa opinião, não estava bem feito, e criando novas cadeias de suprimentos".
O segredo do sucesso dos tênis Veja que triunfaram no mundo sem influenciadores nem publicidade
Como queriam ter materiais de boa qualidade, ambos viajaram para os campos de algodão da reserva Chico Mendes na Amazônia brasileira, pois lá vendiam um algodão muito econômico, mas de muito boa qualidade. Concordaram em pagar aos produtores 55% a mais do preço de mercado e compraram sua matéria-prima.
Essa oferta, 20 anos depois, ainda está de pé.
Sobre o couro utilizado em alguns modelos, os franceses perceberam que o couro de vaca era um processo muito poluente, então começaram a usar o de acácia, verificaram de onde vinham os animais, se comiam comida transgênica ou orgânica, para assim poder fazer a rastreabilidade de todos os seus produtos.
Mas outra proposta de valor que, sem dúvida, marcou o sucesso da marca foi implementar o reparo dos sapatos para estender sua vida útil: ainda não está disponível no Chile, no entanto, em outras cidades como Madrid, Paris, Berlim, Brooklyn, etc., a Veja treina jovens para serem sapateiros e ajudar os clientes a consertar os tênis e não continuar com o hábito de jogá-los no lixo e comprar novos.
Em 2023, repararam um total de 10.662 tênis.
A Veja vendeu cerca de 12 milhões de tênis desde que começou, e nenhum deles foi um 'presente' para influenciadores ou celebridades. Esta é uma das estratégias que a marca adotou que, segundo os fundadores, fez a diferença.
"Fizemos as contas: se em uma marca tradicional 79% do orçamento é dedicado ao marketing, o que aconteceria se investíssemos esse orçamento na cadeia de produção?".
E parece ter funcionado: celebridades como Emma Watson, Leonardo DiCaprio e Reese Witherspoon foram vistas usando seus Veja em público, sem que a marca os tenha enviado.Também há políticos e estilistas de moda que têm seu próprio par.
Inclusive, Meghan Markle usou o modelo V-10 nos Jogos Invictus da Austrália. Desde então, correu o rumor de que o site da Veja entrou em colapso, pois todos queriam adquirir o mesmo modelo. No entanto, Kopp negou essa história.
O segredo do sucesso dos tênis Veja que triunfaram no mundo sem influenciadores nem publicidade
O que o francês revelou é que seu telefone toca várias vezes ao dia, por interessados que querem comprar a marca, mas ele simplesmente parou de atender, porque junto com seu sócio, sabem que no dia em que venderem a Veja, os novos donos só se importarão com o dinheiro.
"E nós queremos ser livres, seguir nosso instinto, abrir em cidades que gostamos como Madrid, montar lojas de reparos, não ir para a Ásia, embora todo mundo recomende (…)".
O homem, sentado no edifício de sua marca em Paris, apontou para todos os seus trabalhadores e disse à jornalista do El País que o entrevistou que provavelmente, todos eles ganhariam mais dinheiro se trabalhassem para outra marca, mas continuam ali porque são movidos pelo projeto.
"Daqui ninguém sai. Não seremos nós os primeiros a sair".
A história de Veja é um lembrete poderoso de que é possível ter sucesso sem comprometer valores éticos.
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Fonte: La Tercera